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MOBILIDADE URBANA E DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SÃO PAULO
Federica Giovanna Fochesato, Paulo Romano Reschilian

Última alteração: 2020-03-10

Resumo


A pesquisa investiga a relação entre mobilidade urbana e desigualdade socioespacial em São José dos Campos, SP. Reforça-se que a mobilidade urbana - ao lado da moradia - é elemento essencial à reprodução da força de trabalho - conforme Villaça (1986, p. 85), “os principais lugares onde o cidadão urbano de hoje se “ancora” territorialmente são os locais de moradia e de trabalho, daí a grande importância do deslocamento, do transporte, entre esses locais”.

O objeto de estudo apoia-se numa matriz teórica que fundamenta três aspectos: o primeiro trata da relação entre mobilidade urbana e direito à cidade. Se “a mobilidade urbana favorece a mobilidade social” (BOARETO, 2010, p. 18), ao aumentar a mobilidade urbana da população - principalmente daquela de baixa renda –, cria-se condições para que a cidade desempenhe seu papel de oferecer oportunidades iguais a todos os cidadãos.  Sistemas de mobilidade ineficientes – com destaque ao transporte público usado pela grande massa de trabalhadores - pioram as desigualdades socioespaciais (CARVALHO, 2016). Além disso, em se tratando de países da periferia do capitalismo, como é o caso do Brasil, a renda costuma ser condicionante não apenas da moradia – se em “localização” (VILLAÇA, 2001) valorizada ou não -, mas também da mobilidade. O segundo aspecto trata da abordagem teórica sobre a produção do espaço que, dentro da lógica capitalista, resulta nas desigualdades socioespaciais traduzidas sob a forma de segregação – elemento que influenciará diretamente a mobilidade urbana. Segundo Villaça (2001, p. 150), “a segregação é um processo necessário à dominação social, econômica e política por meio do espaço” e “nenhum aspecto do espaço urbano brasileiro poderá ser jamais explicado se não forem consideradas as especificidades da segregação social e econômica” (VILLAÇA, 2012, p.44).  Conforme o autor, a segregação das ditas classes de maior renda, configura-se como instrumento de poder e controle. Porém, não se trata só de uma apropriação diferenciada do espaço por meio da segregação nas melhores localizações, mas também do domínio dos tempos de deslocamento. E o tempo, por sua vez, é elemento essencial à reprodução e acúmulo do capital. Por fim, encerra a delimitação do objeto da pesquisa, a relação entre mobilidade urbana e reprodução da força de trabalho – força esta que é indispensável à produção espacial da cidade. Mas, embora a cidade seja uma produção social coletiva, a sua apropriação plena está longe de se distribuir entre todos no território (MARICATO, 2017). Ainda que a divisão do trabalho tenha passado por profundas alterações, desde o momento em que o Brasil presenciou a celeridade da urbanização associada à industrialização na segunda metade do século passado, segue em cena a “espoliação urbana” (KOWARICK, 1979) que recai sobre os ditos “precariados urbanos” (HARVEY, 2014) da atualidade – a limitada mobilidade se coloca como uma violência contra os trabalhadores. Sendo assim, os deslocamentos da força de trabalho mais precarizada, uma vez controlados na relação espaço-tempo combinadamente, não só reforçam a espoliação urbana como também explicitam diferentes gastos de tempo (associado à renda) para a geração de capital entre sujeitos que veem, produzem e usam a mesma cidade de forma distinta (KOVARICK, 1979).


Palavras-chave


Mobilidade urbana; segregação socioespacial; força de trabalho; direito.

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